Vivian Vigar
Publicado no livro Fazeres Interdisciplinares [Regina Giora (org.), 2014]
INTRODUÇÃO
Este artigo propõe relatar o caminho interdisciplinar traçado para
analisar como o filme A Febre do Rato (Claudio Assis, 2011) reflete as
percepções de seu diretor a respeito das relações
de poder na sociedade contemporânea. Essa análise, na qual este
artigo se baseia, está na dissertação Poética e violência em A Febre do
Rato: contexto e conceitos (VIGAR,
2014) e foi apresentada como requisito à obtenção do título de Mestre,
orientada pela professora Drª. Regina Giora, no programa interdisciplinar de
Educação, Arte e História da Cultura, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
analisar como o filme A Febre do Rato (Claudio Assis, 2011) reflete as
percepções de seu diretor a respeito das relações
de poder na sociedade contemporânea. Essa análise, na qual este
artigo se baseia, está na dissertação Poética e violência em A Febre do
Rato: contexto e conceitos (VIGAR,
2014) e foi apresentada como requisito à obtenção do título de Mestre,
orientada pela professora Drª. Regina Giora, no programa interdisciplinar de
Educação, Arte e História da Cultura, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Partindo de uma personalidade de nossos tempos, um crítico cultural
bastante evidente na mídia, Slavoj Žižek – cuja obra teórica, fundamentalmente
marxista, hegeliana e lacaniana, permite travar contato com outros autores,
principalmente, provenientes da Filosofia do Direito e da Psicanálise,
ensejando um olhar multilateral da sociedade e suas estéticas -, a dissertação
supõe, então, Claudio Assis como um cineasta empenhado em refletir de forma
responsável – por um bem comum a todos, mesmo que enlaçado por sua
subjetividade -, e toma seu último filme como objeto para, dentro de um recorte
deste “olhar e perceber a sociedade contemporânea”, abordar a ética e a estética da violência e,
enfim, relacionar com uma possível estética
dos protestos sociais na contemporaneidade. Assim, faremos uma apresentação
de Poética e violência em A Febre do Rato: contexto e conceitos,
identificando seu conteúdo principal, para, em seguida, esclarecer como,
principalmente, através da Psicanálise e do Direito, ela se desenvolvimento
interdisciplinarmente.
bastante evidente na mídia, Slavoj Žižek – cuja obra teórica, fundamentalmente
marxista, hegeliana e lacaniana, permite travar contato com outros autores,
principalmente, provenientes da Filosofia do Direito e da Psicanálise,
ensejando um olhar multilateral da sociedade e suas estéticas -, a dissertação
supõe, então, Claudio Assis como um cineasta empenhado em refletir de forma
responsável – por um bem comum a todos, mesmo que enlaçado por sua
subjetividade -, e toma seu último filme como objeto para, dentro de um recorte
deste “olhar e perceber a sociedade contemporânea”, abordar a ética e a estética da violência e,
enfim, relacionar com uma possível estética
dos protestos sociais na contemporaneidade. Assim, faremos uma apresentação
de Poética e violência em A Febre do Rato: contexto e conceitos,
identificando seu conteúdo principal, para, em seguida, esclarecer como,
principalmente, através da Psicanálise e do Direito, ela se desenvolvimento
interdisciplinarmente.
A dissertação, faz uma análise apontando algumas formas de violência na sociedade contemporânea
ocidental, moldada pelos valores da
tradicional cultura judaico-cristã, tendo o cinema pernambucano,
principalmente, o filme de Claudio Assis, A
Febre do Rato (2011) como objeto, e propondo interpelações estéticas e
éticas sobre algumas formas de violência que podem ser observadas nos filmes.
Assim, fazendo-se valer do princípio do Programa de Educação Arte e História da
Cultura, a interdisciplinaridade, a dissertação buscou tecer uma rede de
conhecimento – entrelaçando fato (história e teoria) e ficção (o cinema) – refletindo
a cerca de aspectos (focando na violência) de uma sociedade atravessada, ao
mesmo tempo, pelas culturas da globalização e do regionalismo. É importante
ressaltar que este trabalho foi escrito sub influência direta da Psicanálise,
em vista que, paralelamente, a autora estudava a obra de Sigmund Freud,
cientista este que sempre defendeu a interdisciplinaridade, entendendo
inclusive as limitações dessa possiblidade. Lembremos de uma passagem do texto
“Totem e Tabu”: “um defeito inevitável dos trabalhos que
procuram aplicar a psicanálise a temas das ciências humanas é oferecer muito
pouco aos leitores de ambas as disciplinas” (FREUD, 2012 [1912], p. 121).
Assim, guardada as devidas proporções, a dissertação, ao se propor
interdisciplinar, assumiu o mesmo risco da psicanálise.
ocidental, moldada pelos valores da
tradicional cultura judaico-cristã, tendo o cinema pernambucano,
principalmente, o filme de Claudio Assis, A
Febre do Rato (2011) como objeto, e propondo interpelações estéticas e
éticas sobre algumas formas de violência que podem ser observadas nos filmes.
Assim, fazendo-se valer do princípio do Programa de Educação Arte e História da
Cultura, a interdisciplinaridade, a dissertação buscou tecer uma rede de
conhecimento – entrelaçando fato (história e teoria) e ficção (o cinema) – refletindo
a cerca de aspectos (focando na violência) de uma sociedade atravessada, ao
mesmo tempo, pelas culturas da globalização e do regionalismo. É importante
ressaltar que este trabalho foi escrito sub influência direta da Psicanálise,
em vista que, paralelamente, a autora estudava a obra de Sigmund Freud,
cientista este que sempre defendeu a interdisciplinaridade, entendendo
inclusive as limitações dessa possiblidade. Lembremos de uma passagem do texto
“Totem e Tabu”: “um defeito inevitável dos trabalhos que
procuram aplicar a psicanálise a temas das ciências humanas é oferecer muito
pouco aos leitores de ambas as disciplinas” (FREUD, 2012 [1912], p. 121).
Assim, guardada as devidas proporções, a dissertação, ao se propor
interdisciplinar, assumiu o mesmo risco da psicanálise.
Após uma breve contextualização do cinema pernambucano – onde coloca-se
o diretor do objeto de pesquisa, o filme A Febre do rato – a dissertação
dispõe conceitos fundamentais selecionados para falar de algumas formas de
violência que nos deparamos em nossa sociedade: a violência contra a mulher, a
miséria, a violência gratuita [como uma pulsão incontrolada – sádica, ou
psicótica – inerente em algumas pessoas], a violência do opressor e do oprimido
etc. Dentre estes conceitos pesquisados, levando em conta a
interdisciplinaridade, destacam-se:
o diretor do objeto de pesquisa, o filme A Febre do rato – a dissertação
dispõe conceitos fundamentais selecionados para falar de algumas formas de
violência que nos deparamos em nossa sociedade: a violência contra a mulher, a
miséria, a violência gratuita [como uma pulsão incontrolada – sádica, ou
psicótica – inerente em algumas pessoas], a violência do opressor e do oprimido
etc. Dentre estes conceitos pesquisados, levando em conta a
interdisciplinaridade, destacam-se:
· “Vida
nua” – pesquisado em “Sobre a crítica do poder como violência”
(BENJAMIN, 1921) e Homo Sacer I (AGAMBEN,
1995). Nas palavras de Benjamin, “No âmbito da vida nua cessa a dominação do Direito sobre os
vivos.” (BENJAMIN, 2012, p. 79). Ou seja um ser humano que não pode ser
culpado ou absolvido, vivendo na anomia (sem lei). Agamben relaciona a vida nua
aos presos de Guantânamo e ao homo sacer,
uma figura jurídica do antigo Direito romano.
nua” – pesquisado em “Sobre a crítica do poder como violência”
(BENJAMIN, 1921) e Homo Sacer I (AGAMBEN,
1995). Nas palavras de Benjamin, “No âmbito da vida nua cessa a dominação do Direito sobre os
vivos.” (BENJAMIN, 2012, p. 79). Ou seja um ser humano que não pode ser
culpado ou absolvido, vivendo na anomia (sem lei). Agamben relaciona a vida nua
aos presos de Guantânamo e ao homo sacer,
uma figura jurídica do antigo Direito romano.
· “Violência
divina” e “violência mítica” – também proveniente de “Sobre a crítica
do poder como violência” (BENJAMIN, 1921); Benjamin distingue a violência divina e a violência mítica,
sendo a primeira “representada pelo poder revolucionário, expressão pela
qual se deve ser designada a suprema manifestação do poder puro exercido pelo
homem” (BENJAMIN, 2012, p. 82), colocando em jogo o poder puro e imediato,
disponível para lutar e destruir os limites impostos pelo poder mítico, que por
sua vez, representa o poder constituinte do Direito, servido pelo poder
administrado do Estado.
divina” e “violência mítica” – também proveniente de “Sobre a crítica
do poder como violência” (BENJAMIN, 1921); Benjamin distingue a violência divina e a violência mítica,
sendo a primeira “representada pelo poder revolucionário, expressão pela
qual se deve ser designada a suprema manifestação do poder puro exercido pelo
homem” (BENJAMIN, 2012, p. 82), colocando em jogo o poder puro e imediato,
disponível para lutar e destruir os limites impostos pelo poder mítico, que por
sua vez, representa o poder constituinte do Direito, servido pelo poder
administrado do Estado.
· “Significante-mestre”
– da teoria psicanalítica de Jacques
Lacan, pesquisada para a dissertação, principalmente, na obra de Slavoj Žižek que, por sua vez, explica o conceito como “o conjunto de
regras fundadas para si mesmas (‘é assim porque é, porque é o nosso
costume)” (ŽIŽEK, 2011, p. 41), “um gesto decisivo, que não pode ser
baseado na razão, é o Mestre” (ŽIŽEK, 2008, p. 35).
– da teoria psicanalítica de Jacques
Lacan, pesquisada para a dissertação, principalmente, na obra de Slavoj Žižek que, por sua vez, explica o conceito como “o conjunto de
regras fundadas para si mesmas (‘é assim porque é, porque é o nosso
costume)” (ŽIŽEK, 2011, p. 41), “um gesto decisivo, que não pode ser
baseado na razão, é o Mestre” (ŽIŽEK, 2008, p. 35).
·
“Homo
Sacer” – como dito anteriormente, uma
figura jurídica do antigo Direito romano, retomado no livro inicial, Homo
Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua I (AGAMBEN,
1995),
de “uma série de investigações genealógicas
dos paradigmas (teológicos, jurídicos e biopolíticos) que têm exercido uma
influência determinante sobre o desenvolvimento e a ordem política global das
sociedades ocidentais” (AGAMBEN
apud COSTA, 2006, p. 131).
“Homo
Sacer” – como dito anteriormente, uma
figura jurídica do antigo Direito romano, retomado no livro inicial, Homo
Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua I (AGAMBEN,
1995),
de “uma série de investigações genealógicas
dos paradigmas (teológicos, jurídicos e biopolíticos) que têm exercido uma
influência determinante sobre o desenvolvimento e a ordem política global das
sociedades ocidentais” (AGAMBEN
apud COSTA, 2006, p. 131).
· “Estado
de exceção” – título do livro de Giorgio Agambem (2004), continuando a
série iniciada com Homo Sacer I; Agamben
propõe que estado de exceção seja “um paradigma de governo
dominante”, apresentado como um “patamar de indeterminação entre
democracia e absolutismo” (AGAMBEN, 2004, p. 13) e situado no limite entre
a política e o direito. (ibidem, p. 11). Por ser um decreto que suspende a lei
a fim de superar uma crise política, aponta para o possível equívoco,
explicando que, “o estado de exceção não se define, segundo o modelo
ditatorial, como uma plenitude de poderes, um estado pleromático de direito,
mas sim, como um estado kenomático, um vazio e uma interrupção de
direito.” (ibidem, p. 75).
de exceção” – título do livro de Giorgio Agambem (2004), continuando a
série iniciada com Homo Sacer I; Agamben
propõe que estado de exceção seja “um paradigma de governo
dominante”, apresentado como um “patamar de indeterminação entre
democracia e absolutismo” (AGAMBEN, 2004, p. 13) e situado no limite entre
a política e o direito. (ibidem, p. 11). Por ser um decreto que suspende a lei
a fim de superar uma crise política, aponta para o possível equívoco,
explicando que, “o estado de exceção não se define, segundo o modelo
ditatorial, como uma plenitude de poderes, um estado pleromático de direito,
mas sim, como um estado kenomático, um vazio e uma interrupção de
direito.” (ibidem, p. 75).
· e “espaço
anômico” – este, um espaço vazio de direito, onde a regra é aplicada por
uma força de lei sem lei, possibilitado pelo estado de exceção e onde os
conceitos anteriores convergem.
anômico” – este, um espaço vazio de direito, onde a regra é aplicada por
uma força de lei sem lei, possibilitado pelo estado de exceção e onde os
conceitos anteriores convergem.
Porém, a dissertação em questão toma forma da autora apenas nas últimas
páginas, quando é introduzida uma reflexão a respeito de uma possível estética
do protesto, pensada a partir de um momento político do Brasil, ainda em
desdobramento, com bastante evidência na mídia e na sociedade em geral,
principalmente nas grandes capitais.
páginas, quando é introduzida uma reflexão a respeito de uma possível estética
do protesto, pensada a partir de um momento político do Brasil, ainda em
desdobramento, com bastante evidência na mídia e na sociedade em geral,
principalmente nas grandes capitais.
A estética do protesto foi relacionada ao título do trabalho, “A
poética da violência em A Febre do
Rato“, justamente porque Claudio Assis, o diretor do filme, nos
apresenta um personagem, um ativista político, que encaixa-se em vários dos conceitos
estudados e, ainda que esta escolha “peque” pelo positivismo, encontramos nele um gancho conveniente para
retratar o momento histórico do País.
poética da violência em A Febre do
Rato“, justamente porque Claudio Assis, o diretor do filme, nos
apresenta um personagem, um ativista político, que encaixa-se em vários dos conceitos
estudados e, ainda que esta escolha “peque” pelo positivismo, encontramos nele um gancho conveniente para
retratar o momento histórico do País.
Além da polivalência do personagem, uma pessoa aparentemente destituída
de certos tabus e morais, Zizo, nome do personagem é um artista, e utiliza a
poesia performática como canal para ser ouvido.
Questiona-se, então, se não é este, a performance, exatamente, o meio
que os ativistas encontram para serem ouvidos. E no subcapítulo, “Poesia
como subterfúgio da vida nua e a estética do protesto”, preconiza-se sobre
esta possível estética do protesto, utilizando algumas manifestações recentes
como exemplos históricos.
de certos tabus e morais, Zizo, nome do personagem é um artista, e utiliza a
poesia performática como canal para ser ouvido.
Questiona-se, então, se não é este, a performance, exatamente, o meio
que os ativistas encontram para serem ouvidos. E no subcapítulo, “Poesia
como subterfúgio da vida nua e a estética do protesto”, preconiza-se sobre
esta possível estética do protesto, utilizando algumas manifestações recentes
como exemplos históricos.
DELIMITANDO E ENCADEANDO CONOTAÇÕES
Tendo identificado o cenário utilizado para o presente artigo,
tentaremos esclarecer o encadeamento proposto no resumo: “poder na
sociedade contemporânea”, “ética e estética da violência” e
“protestos sociais”. Isto, sem antes delinear brevemente, tais conotações
chaves.
tentaremos esclarecer o encadeamento proposto no resumo: “poder na
sociedade contemporânea”, “ética e estética da violência” e
“protestos sociais”. Isto, sem antes delinear brevemente, tais conotações
chaves.
Primeiramente, por “protestos sociais” entendemos as
manifestações públicas que levam em conta propostas políticas. Para mantermos o
artigo na contemporaneidade, podemos citar movimentos ecoados por todo o mundo,
como o Black Black e o Femen, ambos idealizados no exterior, mas
reverberados no Brasil e outros movimentos pontuados por questões locais como
os protestos na praça Taksin, na Turquia ou o rolezinho, do Brasil.
manifestações públicas que levam em conta propostas políticas. Para mantermos o
artigo na contemporaneidade, podemos citar movimentos ecoados por todo o mundo,
como o Black Black e o Femen, ambos idealizados no exterior, mas
reverberados no Brasil e outros movimentos pontuados por questões locais como
os protestos na praça Taksin, na Turquia ou o rolezinho, do Brasil.
Segundo, em relação a “ética e estética da violência”
compreende-se o estudo das
representações, ligadas à condição do artista ou do observador em relação ao
mundo histórico-social ao qual pertence. Para tanto podemos sugerir, por
exemplo o manifesto de Glauber Rocha, Eztetyka da Fome (1965), que através do cinema, procurava
representar eticamente a questão da violência, principalmente no viés da
miséria, no Brasil. O mesmo podemos dizer de Claudio Assis, ao enfatizar que a
produção cinematográfica do Brasil deve refletir a realidade econômica e
social: “Tem de ter um teto de R$ 3 milhões para filmes feitos com
dinheiro público”, o diretor afirmou em entrevista (s/d)[1],
devido as restrições orçamentárias de um País que convive com a pobreza.
compreende-se o estudo das
representações, ligadas à condição do artista ou do observador em relação ao
mundo histórico-social ao qual pertence. Para tanto podemos sugerir, por
exemplo o manifesto de Glauber Rocha, Eztetyka da Fome (1965), que através do cinema, procurava
representar eticamente a questão da violência, principalmente no viés da
miséria, no Brasil. O mesmo podemos dizer de Claudio Assis, ao enfatizar que a
produção cinematográfica do Brasil deve refletir a realidade econômica e
social: “Tem de ter um teto de R$ 3 milhões para filmes feitos com
dinheiro público”, o diretor afirmou em entrevista (s/d)[1],
devido as restrições orçamentárias de um País que convive com a pobreza.
E por último,
“poder na sociedade
contemporânea” refere-se às relações de dominância enraizadas na cultura,
de forma a propiciar o surgimento de uma “ética e estética da
violência”, que por sua vez, caracterizará as possíveis “estéticas do
protesto”; conjunto, este, estudado aqui através da Psicanálise e do
Direito, respaldados pela dialética hegeliana do senhor e do escravo. Do
“poder na sociedade contemporâneas”, entendemos sujeitos que
habitam um universo predominantemente destituído da proteção de um direito
justo, marcados pela precariedade das estruturas sociais dominadas por um grupo
menor, escrevem a História e as Leis. Mas, por outro lado, quando estudado pela
Psicanálise, identificamos estes sujeitos (dominantes e dominados) como
possíveis apenas através do desejo do Outro, um existir (ou
“ex-sistir”), dependente da linguagem e da estrutura cultural,
moldadas pela história da psicologia profunda.
“poder na sociedade
contemporânea” refere-se às relações de dominância enraizadas na cultura,
de forma a propiciar o surgimento de uma “ética e estética da
violência”, que por sua vez, caracterizará as possíveis “estéticas do
protesto”; conjunto, este, estudado aqui através da Psicanálise e do
Direito, respaldados pela dialética hegeliana do senhor e do escravo. Do
“poder na sociedade contemporâneas”, entendemos sujeitos que
habitam um universo predominantemente destituído da proteção de um direito
justo, marcados pela precariedade das estruturas sociais dominadas por um grupo
menor, escrevem a História e as Leis. Mas, por outro lado, quando estudado pela
Psicanálise, identificamos estes sujeitos (dominantes e dominados) como
possíveis apenas através do desejo do Outro, um existir (ou
“ex-sistir”), dependente da linguagem e da estrutura cultural,
moldadas pela história da psicologia profunda.
Delimitada as
conotações, podemos demonstrar seus encadeamentos de forma a usufruir da
possibilidade interdisciplinar, principalmente do Direito e da Psicanálise.
Tomando pelo pressuposto benjaminiano do poder mantido através da violência
mítica e o termo biopoder cunhado por Michael Foucault, podemos entender, passo
a passo, como a estética do protesto absorve a ética e estética da violência,
esta reflexo direto das relações de poder da sociedade, e como o Direito recai
sobre a Psicanálise neste processo.
conotações, podemos demonstrar seus encadeamentos de forma a usufruir da
possibilidade interdisciplinar, principalmente do Direito e da Psicanálise.
Tomando pelo pressuposto benjaminiano do poder mantido através da violência
mítica e o termo biopoder cunhado por Michael Foucault, podemos entender, passo
a passo, como a estética do protesto absorve a ética e estética da violência,
esta reflexo direto das relações de poder da sociedade, e como o Direito recai
sobre a Psicanálise neste processo.
Se a violência
mítica é, como dito anteriormente, “o poder constituinte do Direito,
servido pelo poder administrado do Estado”, e o biopoder, para Foucault, é
– conforme postulado ao Collége de France,
em 1978 – “o mecanismo de estratégias políticas que levam em conta as
características biológicas básicas da espécie humana”[2]
, podemos pensar que a violência mítica é, hoje, aplicada através do biopoder,
que por sua vez é conduzido não apenas por instituições públicas, mas também
privadas, sejam elas culturais, religiosas, educacionais, médicas, jurídicas,
alcançando sobre o corpo, suporte da vida, as relações de poder.
mítica é, como dito anteriormente, “o poder constituinte do Direito,
servido pelo poder administrado do Estado”, e o biopoder, para Foucault, é
– conforme postulado ao Collége de France,
em 1978 – “o mecanismo de estratégias políticas que levam em conta as
características biológicas básicas da espécie humana”[2]
, podemos pensar que a violência mítica é, hoje, aplicada através do biopoder,
que por sua vez é conduzido não apenas por instituições públicas, mas também
privadas, sejam elas culturais, religiosas, educacionais, médicas, jurídicas,
alcançando sobre o corpo, suporte da vida, as relações de poder.
[…] elas [instituições]
o investem, o marcam o dirigem , o supliciam, sujeitam-no a trabalhos,
obrigam-no a cerimônias, exigem-lhe sinais. Este investimento político do corpo
está ligado, segundo relações complexas e recíprocas, à sua utilização
econômica; é numa boa proporção, como força de produção que o corpo é investido
por relações de poder e de dominação; mas em compensação sua constituição como
força de trabalho só é possível quando ele está preso num sistema de sujeição
(onde a necessidade é também um instrumento político cuidadosamente organizado,
calculado e utilizado); o corpo só se torna força útil se é ao mesmo tempo
corpo produtivo e corpo submisso. (FOUCAULT, 2011, p. 28-29)
o investem, o marcam o dirigem , o supliciam, sujeitam-no a trabalhos,
obrigam-no a cerimônias, exigem-lhe sinais. Este investimento político do corpo
está ligado, segundo relações complexas e recíprocas, à sua utilização
econômica; é numa boa proporção, como força de produção que o corpo é investido
por relações de poder e de dominação; mas em compensação sua constituição como
força de trabalho só é possível quando ele está preso num sistema de sujeição
(onde a necessidade é também um instrumento político cuidadosamente organizado,
calculado e utilizado); o corpo só se torna força útil se é ao mesmo tempo
corpo produtivo e corpo submisso. (FOUCAULT, 2011, p. 28-29)
E dentro das
instituição citadas a cima, destacamos a indústria cultural que, por razões
óbvias (a necessidade de vender bens de consumo por meio de um estilo de vida)
exerce poder quase direto sobre o corpo, através do entretenimento e da
propaganda, lançando mão do desejo, do desejo de ter, de consumo insaciável,
construído em nossas sociedades para substituindo o ser e, assim, compreendido
pelo psicanalista Christian Dunker, como “esforço de ajustamento e o
legítimo desejo de ser reconhecido como “alguém”. (DUNKER, 2010).
instituição citadas a cima, destacamos a indústria cultural que, por razões
óbvias (a necessidade de vender bens de consumo por meio de um estilo de vida)
exerce poder quase direto sobre o corpo, através do entretenimento e da
propaganda, lançando mão do desejo, do desejo de ter, de consumo insaciável,
construído em nossas sociedades para substituindo o ser e, assim, compreendido
pelo psicanalista Christian Dunker, como “esforço de ajustamento e o
legítimo desejo de ser reconhecido como “alguém”. (DUNKER, 2010).
E se vivemos em
uma sociedade projetada pela indústria cultural, que por sua vez age
esteticamente sobre os corpos a partir de uma “característica biológica
básica do ser humano” – o desejo -, fundando através dele um meio de poder
que constitui o Direito (afinal, o poder
político é lobista, atrelado ao mercado de consumo), não poderíamos deixar de
compreender que a violência mítica é ética e estética.
uma sociedade projetada pela indústria cultural, que por sua vez age
esteticamente sobre os corpos a partir de uma “característica biológica
básica do ser humano” – o desejo -, fundando através dele um meio de poder
que constitui o Direito (afinal, o poder
político é lobista, atrelado ao mercado de consumo), não poderíamos deixar de
compreender que a violência mítica é ética e estética.
Podemos arriscar,
também, dentre as características básicas do ser humano, a necessidade de
organizar-se em sociedade e, assim, nossa realidade histórica atual mostra-se
como um ambiente oportuno para dominar os sujeitos através de uma violência que
se permite não usar a força física, mantendo-nos em estado insaciável,
contemplando-nos com a ideia de que vivemos em uma democracia. Neste campo onde
instala-se um regime de Direito e economia “neoliberal”, coloca-se em
oposição as ditaduras e ao comunismo. Porém a dita democracia e o
neoliberalismo, têm suas significações completamente deturpadas. Primeiramente,
como é fácil detectar, o neoliberalismo nada tem de novo ou liberal e, segundo,
a “democracia”, supostamente, “poder do povo”, todos
envolvidos em autogoverno coletivo, não passa de uma ficção: no máximo uma instituição
onde é permitido votar em um número limitado de candidatos, tendo o capitalismo
“neoliberal” como um imperador virtual e os megaempresários, não como
burgueses mas, como verdadeiros aristocratas que usufruem da força de trabalho,
movida por essa vontade insaciável de consumo da população ocidental. Nesta lógica, coloca-se a Psicanálise a
serviço do Direito, fazendo necessário um estudo interdisciplinar para
entendermos o processo.
também, dentre as características básicas do ser humano, a necessidade de
organizar-se em sociedade e, assim, nossa realidade histórica atual mostra-se
como um ambiente oportuno para dominar os sujeitos através de uma violência que
se permite não usar a força física, mantendo-nos em estado insaciável,
contemplando-nos com a ideia de que vivemos em uma democracia. Neste campo onde
instala-se um regime de Direito e economia “neoliberal”, coloca-se em
oposição as ditaduras e ao comunismo. Porém a dita democracia e o
neoliberalismo, têm suas significações completamente deturpadas. Primeiramente,
como é fácil detectar, o neoliberalismo nada tem de novo ou liberal e, segundo,
a “democracia”, supostamente, “poder do povo”, todos
envolvidos em autogoverno coletivo, não passa de uma ficção: no máximo uma instituição
onde é permitido votar em um número limitado de candidatos, tendo o capitalismo
“neoliberal” como um imperador virtual e os megaempresários, não como
burgueses mas, como verdadeiros aristocratas que usufruem da força de trabalho,
movida por essa vontade insaciável de consumo da população ocidental. Nesta lógica, coloca-se a Psicanálise a
serviço do Direito, fazendo necessário um estudo interdisciplinar para
entendermos o processo.
Assim, tenta-se
demonstrar a hipótese de como a ética e estética da violência está relacionada
as relações de poder: se o status quo
(senhor/escravo) permanece através do biopoder, e um de seus instrumentos é a
indústria cultural – como uma violência implicada na sugestão do desejo
insaciável através da propaganda – que por sua vez é simbólica, subliminar e
deturpada, a resposta, seguindo o conceito do significante-mestre, – “o que Hegel chamou de ‘Espírito objetivo’
(a substância social dos costumes)” (ŽIŽEK, 2011, p. 53), onde, Mestre é aquele que “estruturou o inconsciente
(político-ideológico) do sujeito” (s/d). “O Mestre é o ingrediente
constitutivo da própria ordem simbólica, por isso as tentativas de superar a
dominação só geram novas figuras do Mestre” (ŽIŽEK, 2013, p. 28) – seria quebrar os paradigmas das relações
de poder – na linguagem lacaniana, o significante-mestre – mas devido a impossibilidade de fuga desse
mestre, está tarefa têm sido difícil de aplicar em termos pragmáticos.
demonstrar a hipótese de como a ética e estética da violência está relacionada
as relações de poder: se o status quo
(senhor/escravo) permanece através do biopoder, e um de seus instrumentos é a
indústria cultural – como uma violência implicada na sugestão do desejo
insaciável através da propaganda – que por sua vez é simbólica, subliminar e
deturpada, a resposta, seguindo o conceito do significante-mestre, – “o que Hegel chamou de ‘Espírito objetivo’
(a substância social dos costumes)” (ŽIŽEK, 2011, p. 53), onde, Mestre é aquele que “estruturou o inconsciente
(político-ideológico) do sujeito” (s/d). “O Mestre é o ingrediente
constitutivo da própria ordem simbólica, por isso as tentativas de superar a
dominação só geram novas figuras do Mestre” (ŽIŽEK, 2013, p. 28) – seria quebrar os paradigmas das relações
de poder – na linguagem lacaniana, o significante-mestre – mas devido a impossibilidade de fuga desse
mestre, está tarefa têm sido difícil de aplicar em termos pragmáticos.
Este cenário mostra-se
claramente quando vemos, por exemplo, grupos que se dizem contraculturais, como
os Black Blocs, utilizarem símbolos
provenientes do poder oficial, como as roupas militares, lembrando-nos, também,
do meio utilizado pelos russo no início do século 20, para criar uma sociedade
independente do Estado, o comunismo. Este meio era uma ditadura: a ditadura do
proletariado. Como explica o filósofo, Michael Hardt, a verdadeira democracia
seria possível, apenas, por um desenvolvimento positivo: praticando. Isso seria
a verdadeira revolução, uma utopia praticada todos os dias. Diferente da
revolução proposta por Lenin, iniciada por uma negação,
“purgatório/paraíso”, onde primeiramente muda-se a “natureza
humana”[3],
através da ditadura do proletariado, para depois as pessoas estarem prontas
para a democracia e, então, o Estado não ser mais necessário. (HARDT, 2008)
claramente quando vemos, por exemplo, grupos que se dizem contraculturais, como
os Black Blocs, utilizarem símbolos
provenientes do poder oficial, como as roupas militares, lembrando-nos, também,
do meio utilizado pelos russo no início do século 20, para criar uma sociedade
independente do Estado, o comunismo. Este meio era uma ditadura: a ditadura do
proletariado. Como explica o filósofo, Michael Hardt, a verdadeira democracia
seria possível, apenas, por um desenvolvimento positivo: praticando. Isso seria
a verdadeira revolução, uma utopia praticada todos os dias. Diferente da
revolução proposta por Lenin, iniciada por uma negação,
“purgatório/paraíso”, onde primeiramente muda-se a “natureza
humana”[3],
através da ditadura do proletariado, para depois as pessoas estarem prontas
para a democracia e, então, o Estado não ser mais necessário. (HARDT, 2008)
E dessa forma
tentamos fazer uma crítica dos protestos atuais, legitimando-os, mas atentando
para uma questão que deve ser olhada a fim de tornar as ações mais efetivas e
construirmos uma cultura onde as relações de poder reflitam as relações de
poder melhores distribuídas entre toda a população. Arriscamos a dizer que o
que vemos nas manifestações sociais são reflexo e continuação da própria situação
a qual tenta-se reverter. As manifestações se dão de forma estética,
utilizando-se da indústria cultural para sua disseminação, que por sua vez é
controlada por aqueles que dominam as relações de poderes. Não há aqui uma
resposta, apenas um pensamento interdisciplinar relacionando causa e efeito.
tentamos fazer uma crítica dos protestos atuais, legitimando-os, mas atentando
para uma questão que deve ser olhada a fim de tornar as ações mais efetivas e
construirmos uma cultura onde as relações de poder reflitam as relações de
poder melhores distribuídas entre toda a população. Arriscamos a dizer que o
que vemos nas manifestações sociais são reflexo e continuação da própria situação
a qual tenta-se reverter. As manifestações se dão de forma estética,
utilizando-se da indústria cultural para sua disseminação, que por sua vez é
controlada por aqueles que dominam as relações de poderes. Não há aqui uma
resposta, apenas um pensamento interdisciplinar relacionando causa e efeito.
REFERÊNCIAS
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Poleti. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2004.
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Trad. Henrique Burigo. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
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BENJAMIN, Walter. “Sobre
a crítica do poder como violência” (1921). In: BARRENTO, João (org. e
trad.) O anjo da história. Belo
Horizonte: Autêntica Editora: 2012.
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COSTA, Flávia. Entrevista com Giorgio
Agamben. Revista do Departamento de Psicologia, UFF. , vol.18, n.1, p. 131-136.
Niterói: 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-80232006000100011>
Acesso: 05 de ago, 2014.
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DUNKER, Christian.
“A querela psicanalítica do consumo”. Revista Cult. ed. 153. São
Paulo: Editora Bregantini, 2010.
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FREUD, Sigmund. “Totem e Tabu”
[1913]. In: Obras completas, volume 11
(1912-1914). Tradução Paulo César de Souza. 1 ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2012.
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FOUCAULT, Michael. Security, Territory,
Population: Lectures at the Collège de France, 1977‐78 Edited by Michel
Senellart. Translated by Graham Burchell. London: Palgrave Macmillan, 2007.
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HARDT, Michael. “On revolution and
democracy” In: TAYLOR, Astra. Examined
Life: Philosophy is in the streets. [Filme-vídeo].
Produção de Silva Basmajian, Bill Imperial, Ron Mann, Lea Mann e Alexander
Taylor. Nova York, Sphinx Production, 2008. Color, 88 min. son. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=poy8Cas_cew.
Acesso: 08 de ago, 2014.
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ŽIŽEK, Slavoj. A visão em paralaxe. Trad. Maria Beatriz
de Medina. São Paulo: Biotempo, 2008.
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__________.Primeiro como tragédia, depois como farsa.
Trad. Maria Beatriz de Medina. São Paulo: Biotempo, 2011.
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__________. Menos que nada: Hegel e a sombra do
materialismo dialético. Trad. Rogério Bettoni. São Paulo: Boitempo, 2013.
materialismo dialético. Trad. Rogério Bettoni. São Paulo: Boitempo, 2013.
[1] Entrevista concedida a Cléber Eduardo para o
site Contratempo. “Entrevista com Cláudio Assis”. Sem data
especificada, mas aparentemente por volta de 2002. Disponível em:<
http://www.contracampo.com.br/52/entrevistaCláudioassis.htm>. Acesso: 16 de
maio, 2014
site Contratempo. “Entrevista com Cláudio Assis”. Sem data
especificada, mas aparentemente por volta de 2002. Disponível em:<
http://www.contracampo.com.br/52/entrevistaCláudioassis.htm>. Acesso: 16 de
maio, 2014
[2] Tradução nossa.
[3] Por “natureza humana”,
Michael Hardt denota – seguindo o pensamento de Foucault – uma construção
histórica e cultural. “A história dos hábitos e práticas, resultado de
lutas e vitória”.
Michael Hardt denota – seguindo o pensamento de Foucault – uma construção
histórica e cultural. “A história dos hábitos e práticas, resultado de
lutas e vitória”.